tag:blogger.com,1999:blog-46906034604709798132024-03-06T19:34:37.959-08:00Carlos Moreira - Poesia<p><b>"já fiz de tudo com a palavra: agora quero fazer de nada" </b></p><p>(haroldo de campos)</p><p><b>"o que for dito na treva será ouvido na luz?" </b></p><p> (alberto lins caldas)</p>carlos moreirahttp://www.blogger.com/profile/17646255318966104366noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-4690603460470979813.post-72340455006316708692011-11-27T14:20:00.000-08:002011-11-27T14:20:53.492-08:00Leia na íntegra os poemas do áudio-livro de Carlos Moreira, "Em Silêncio Não Se Fala"<div align="right"><i>após cada poema, há um link para ouvi-lo</i></div><div align="right"><i>na voz do autor. caso queira realizar o download,</i></div><div align="right"><i>clique com o botão direito do mouse e </i></div><div align="right"><i>escolha "salvar destino como".</i></div><div align="right"><i>.</i></div><div align="right"><i>.</i></div><div align="right"><i>.</i></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"><i></i></div><div align="right"><i>para fazer o download do aúdio-livro </i></div><div align="right"><i>"Em Silêncio Não Se Fala" </i></div><div align="right"><i>na íntegra, </i><i>clique no link </i></div><div align="right"><i><a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/poesia.rar">silêncio</a></i></div><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="" name="_Toc100559115"><b>balada de um deus embriagado</b></a><br />
<br />
<br />
<br />
no princípio<br />
era o berro<br />
o caos do acaso<br />
pedaço de nada nó de garganta guilhotinada<br />
<br />
no precipício de tudo<br />
estava o silêncio semente<br />
de toda palavra<br />
a palma aberta vazio<br />
rindo distribuindo fogo<br />
por todas as bocas<br />
<br />
no particípio era a voz<br />
a vez de ser<br />
a fala oblíqua<br />
fálica nada flácida<br />
<br />
à fórceps<br />
do querer atômico<br />
das pedras que rolam da dança dos genes<br />
o sorriso banguela dos sóis<br />
plantados no escuro<br />
vaga-luzes de brilho outro forma alguma<br />
<br />
<br />
os deuses só nasceram depois<br />
muito muito muito mais tarde<br />
quando a sede aumentou a fome gritou na entranha a faca devorou a mão<br />
quando a guerra precisou de senhores<br />
os senhores de paz<br />
e a paz (coitada<br />
rezaram os pés de tudo que há)<br />
cansou de ser palavra e mais nada<br />
<br />
<br />
os deuses nasceram de todos os cantos<br />
<br />
de todas as formas e nomes e dores alegres<br />
vieram em cores<br />
em carnes<br />
asas pedras insetos imensos<br />
cancros abortos invernos<br />
madeiras ferros estrumes topázios ovos de todas as aves<br />
<br />
<br />
cada um no seu mundo<br />
ruminando infinitos<br />
<br />
mas um deles<br />
sem aviso<br />
belo dia sem data<br />
despertou<br />
como se pulasse de um sonho em outro<br />
gritou contra as portas que voaram desfeitas em luz<br />
e chorou<br />
diante do destino de estar eterno e não ser nada além<br />
de além<br />
<br />
<br />
contra que deus brandir o punho<br />
se deus era ele e supremo porque para ser supremo<br />
havia sido inventado?<br />
<br />
<br />
havia lido<br />
deuses gostam de livros<br />
que o maior castigo era a eternidade<br />
e nem pecado ele havia cometido<br />
desejo nenhum erro nenhum morte nenhuma nenhuma carne<br />
entre seus dentes sua carne<br />
<br />
<br />
a eternidade lhe caía sobre os ombros<br />
pedra infinita sem montanha<br />
<br />
<br />
a tarefa de ser deus se limitava a legislar o tempo<br />
mas alguma coisa lhe dizia<br />
que há muito<br />
o tempo<br />
não mais<br />
<br />
existia<br />
<br />
!<br />
revoltou-se<br />
<br />
homem<br />
cansado de ser deus<br />
se fez mulher criança birra de maluco<br />
<br />
pintou interrogações por dentro das nuvens<br />
e fez chover<br />
<br />
<br />
por trezentos tempos<br />
os homens ficaram perguntando inquirindo debatendo<br />
<br />
filos<br />
o fando<br />
<br />
e sua raiva não passou<br />
<br />
<br />
então resolveu embriagar-se<br />
<br />
<br />
e foi fazer de todas as maneiras sua maneira de estar assim<br />
<br />
recolheu de todos continentes as canas todas de açúcar<br />
<br />
as uvas<br />
de todas as parreiras aprendeu o cauim o álcool de arroz<br />
<br />
de batata de madeira de manga de goiaba de laranja de manjericão de amora<br />
<br />
arginica cantárida cascas de ovos de ema de águia<br />
<br />
chocolates corvos cornos de rinoceronte aspargos<br />
<br />
ginseng mel de ostras sangria de estrelas champanhe de<br />
<br />
ruínas morangos com laranja vinho verde amarelo<br />
<br />
cor-de-fogo-quando-foge olhos de camaleão ponches<br />
<br />
de todos os natais mortos açúcares cervejas venenos cevados<br />
<br />
brancos tintos secos de mesa e cama<br />
<br />
<br />
colheu todas as flores pra dar o tom certeiro<br />
mastigou fermentou<br />
bateu ferveu moeu acrescentou ao buquê<br />
o azedume da cicuta<br />
o amargo do curare<br />
<br />
e o sangue de todos os tipos de gente<br />
<br />
pra ferver no ponto certo o sol de ira do seu cálice<br />
<br />
na borda imensa de sua taça<br />
giravam sóis de girassóis<br />
borbulhando galáxias em torno do vermelho vivo<br />
<br />
<br />
bebeu<br />
<br />
<br />
bebeu<br />
<br />
<br />
bebeu<br />
<br />
goles coagulados de gula<br />
<br />
como se beber fosse só o que importasse e existisse<br />
<br />
<br />
bebeu com tanto gosto tanta sede tanto trato<br />
que nem se diria ser um deus que estava ali embriagado<br />
<br />
quando jogou longe seu corpo vazio<br />
estava repleto de nada<br />
nem se lembrava mais<br />
<br />
do que era tempo ser deus essa conversa<br />
<br />
de infinito e orações mal-terminadas<br />
<br />
<br />
estava livre<br />
e livre<br />
se apoiou sobre um quasar<br />
e caminhou sobre seus pés<br />
<br />
<br />
mudando no giro incerto do seu passo<br />
a desordem do espaço órbitas formando novos pares<br />
a vida escorrendo de sua boca<br />
<br />
<br />
em gotas<br />
<br />
<br />
de alegria e liberdade<br />
<br />
resolveu inventar enquanto era tempo<br />
<br />
(mas que tempo ainda se sustentaria?)<br />
o corpo que lhe coubesse<br />
<br />
a vida que lhe bastasse<br />
em que sua carne reinventada<br />
se misturasse ao sonho simples que arrastava<br />
<br />
o ser inteiro e só<br />
que sustentasse no colo e no olhar<br />
sua leveza<br />
<br />
<br />
desceu então<br />
porque não era<br />
de espaço vazio<br />
e de negrume<br />
que ia inventar de embriaguez seu amor<br />
<br />
<br />
vermelha<br />
rosácea<br />
lâmina vulto esperma pétala folha-de-relva pérola luz apagada vento<br />
<br />
<br />
foi tecendo de mar<br />
de fruta<br />
de pedra<br />
os olhos<br />
as mãos<br />
a espera<br />
<br />
girava gritava gargalhava<br />
caía sorria mergulhava<br />
e soprava entre as mãos<br />
pra fazer da areia branca<br />
a seda<br />
da pele<br />
<br />
fez dois pés de vento e plantou em cada um<br />
<br />
dez<br />
<br />
mil<br />
<br />
caminhos<br />
<br />
porque não queria amor roubado de si mesmo<br />
e mesmo embriagado como só um deus pode poder<br />
<br />
sabia ser amor o que era a liberdade<br />
<br />
assim fez<br />
e fez de nada o tudo desse sonho<br />
cada poro pêlo umbigo boca cabelo sexo curvas de acento variado<br />
<br />
montes de vênus veias nuas<br />
grandes pequenos<br />
lábios<br />
<br />
colos de calor inesperado<br />
<br />
<br />
e viu que era boa<br />
<br />
porque não era perfeito<br />
<br />
o amor em pedaços multiplicados ali a sua frente<br />
<br />
<br />
faltava olhar e viço<br />
fôlego que banhasse seu rosto<br />
<br />
<br />
em vez de soprar<br />
(chega de barro de vento)<br />
beijou<br />
a sombra de luz que havia inventado<br />
<br />
<br />
beijo molhado de tudo que era e havia bebido<br />
beijo incerto dado entre astros palavras na altura possível<br />
<br />
<br />
beijo de deus e de homem<br />
de filho e de pai<br />
beijo de bicho<br />
<br />
de homenino entre tardes<br />
que se perderam da memória<br />
<br />
<br />
enquanto beijava e criava<br />
se sentiu criado e beijado<br />
<br />
ele mesmo também inventado pelo ser que inventara<br />
<br />
<br />
deus completo agora carne<br />
no verbo dessa palavra<br />
<br />
abriu os olhos nos olhos que lhe deram os seus<br />
<br />
cruzou os dedos com as mãos que criou se criando<br />
e viu no outro rosto o seu rosto diverso<br />
<br />
não narciso de fôlego curto<br />
nem lago de sede infinita<br />
<br />
ele mesmo outro no espelho de sua fome seu nome dentro do<br />
<br />
(silêncio)<br />
<br />
<br />
amor do fundo à superfície<br />
<br />
<br />
vestido de sol<br />
e de água não disse seu nome nem nomeou<br />
<br />
semelhança<br />
<br />
ela que se quisesse se dissesse<br />
livre agora como era<br />
ou nome algum se rotulasse<br />
que amar é ser sem nome<br />
<br />
e estar reencontrado<br />
<br />
<br />
na relva imensa do universo<br />
as duas silhuetas sentaram<br />
longamente olhando<br />
o mar imóvel de tudo<br />
<br />
<br />
adormeceram<br />
em paz<br />
<br />
no mundo<br />
reinventado<br />
<br />
deitados na areia do silêncio<br />
assim vivos assim mortos<br />
<br />
superestrelados<br />
<br />
<br />
na paz da paz do amor<br />
sonhado por um deus<br />
<br />
embriagado<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/01.wma"> silêncio 1</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
ah que não sustento tanta fome e pensamento. eis que se desfazem formas loucas pelo ar. não que se permita a gravidade do momento. só o que é desejo pode ser e não estar. quase que se perde o que foi no firmamento. quase não se sabe quanto o tempo vai durar. quase se desmonta essa máquina do tempo. sempre no meu sempre nunca mais jamais ne pás. eu que não sonhava sou o sonho a dor o medo. eu que nem sabia só eu sei o que lembrar. acordei cansado de estar morto apodrecendo. eu me ressuscito e desafio o meu cantar. sou multiplicado pelo quanta do meu peso. a minha matéria é doutora em levitar.<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/02.wma"> silêncio 2</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
lembra amor daquela tarde daquele verão daquele sorvete daquele girassol daquele catavento daquele gato angorá na tampa da lata de biscoitos daquele uivo certeiro daquele amor no sal do mar daquele fogo de fim de tarde daquele beijo de cabeça pra baixo daquela pedra daquela lua daquele filme daquela música daquele frio no alto da ladeira daquele gosto de suor e cidra daquela vertigem daquelas crianças envelhecendo depressa daquele jeito de olhar entre as grades do portão daquela vida amor lembra amor lembra amor lembra?<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/03.wma"> silêncio 3</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
como se<br />
tivesse garras<br />
abro os gomos<br />
da pedra<br />
<br />
pra que a luz<br />
de sua carne<br />
escorra em liberdade<br />
<br />
e ilumine<br />
a treva<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/04.wma"> silêncio 4</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
pêssegos. morangos. fios de mel no pão aberto.<br />
maçãs ao sol em desafio. creme de limão. cerejas.<br />
mancha de amora na camisa branca. crua.<br />
estrelas estalando contra a língua, taça longa.<br />
mão de uvas, mangas, nódoa de tudo. caju. açaí.<br />
aspargos com açúcar. gengibre com açúcar.<br />
pimenta curtida no mel, flores cristalizadas.<br />
aguardente sobre a carne, olhos de alcaçuz.<br />
grãos de milho num rosário de cevada, fresca.<br />
mamilos de mamão com espírito de vinho.<br />
nada de faminto, triste, reticente.<br />
todos os sentidos no caminho.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/05.wma"> silêncio 5</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Os olhos não cabem no corpo.<br />
Os olhos não sabem do resto do corpo.<br />
Os olhos no corpo são outro corpo.<br />
Os olhos dos mortos não têm mais corpo.<br />
Os olhos dos vivos têm outro corpo.<br />
Os olhos refazem o caminho do corpo.<br />
Os olhos inventam a vida do corpo.<br />
Os olhos terminam a história do corpo.<br />
Os olhos se abrem primeiro no corpo.<br />
Os olhos se fecham depois do corpo.<br />
Os olhos podem abrir mão do corpo.<br />
Os olhos são o corpo do corpo.<br />
O corpo não.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/06.wma"> silêncio 6</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
porque mergulhei no inferno<br />
e vi girassóis queimando<br />
me fiz de vento e moinho<br />
mefisto morto no mar<br />
de noite negra de espanto<br />
e quis sem querer a morte<br />
mil vezes na pele entrando<br />
é que acendi este canto<br />
feito da treva da luz<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/07.wma"> silêncio 7</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
no caminho enforcado<br />
debaixo daquela sombra<br />
pelo tempo mastigado<br />
feito livro em língua morta<br />
ele esperava em silêncio<br />
<br />
o seu relógio parado<br />
com todo rigor cumpria<br />
o ritual invisível<br />
de estar vivo sozinho<br />
duas vezes por dia<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/08.wma"> silêncio 8</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
o que tem na tua pele<br />
que deságua minha sede<br />
se na rede caio peixe<br />
desse mar que me persegue<br />
se me calo em tua boca<br />
pra falar a língua santa<br />
do amor que se desata<br />
tempestade fogo planta<br />
eu não sei o que me pesa<br />
nessa asa de repente<br />
ser o caçador e a presa<br />
sempre o mesmo diferente<br />
sem você eu não sou quase<br />
o que eu era logo esquece<br />
planta fogo tempestade<br />
o que tem na tua pele?<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/09.wma"> silêncio 9</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
o amor e seus elementos<br />
dissolveram o firmamento<br />
como se fosse papel<br />
<br />
agora chove aqui dentro<br />
tudo está fora de tempo<br />
e você nem percebeu<br />
<br />
que o mar está mais calmo<br />
que o breu da noite é claro<br />
e a tarde amanheceu<br />
<br />
tudo é normal e raro<br />
não há certo nem errado<br />
quando há você e eu<br />
<br />
o rio retorna pra fonte<br />
o segredo não se esconde<br />
no silêncio que se ouviu<br />
<br />
o perto volta de longe<br />
a flor de novo se expande<br />
girassol no mês de abril<br />
<br />
quando o mar está mais claro<br />
quando o breu da noite é calmo<br />
a manhã entardeceu<br />
<br />
tudo é milagre fácil<br />
nada é breve nada é frágil<br />
porque há você e eu<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/10.wma"> silêncio 10</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
dormi com tua sombra<br />
luminosa no meu peito<br />
<br />
amor: ela ronca<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/11.wma"> silêncio 11</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
não vou ficar sonhando por você mas não vou deixar de sonhar com você a não ser que você decida sonhar sozinha<br />
<br />
sei que você é comum mas o comum que é seu é diferente do comum comum dos outros como um raio de sol ricocheteando no olho de um beija-flor pousa diferente de um raio de sol qualquer entre as pétalas safadas de uma violeta<br />
<br />
se você quer ser ninguém eu te ajudo mas esse ninguém que você será terá de ser um ninguém visível pleno vivo de tanta possibilidade inútil<br />
<br />
eu sei que os outros que se danem por isso mesmo estamos livres para sermos o máximo não em relação a eles mas em relação ao que eles poderiam ser se fossem nós e se mandassem à merda<br />
<br />
eu te amo e você sabe disso e sabe o que representa ser amado por alguém que queimou sua alma<br />
como lenha da palavra e que agora só tem cinza pra oferecer ao mundo mas que basta soprar com jeito por baixo dessa cinza e fiat lux<br />
de novo<br />
<br />
porque ser menos do que os outros se é possível ser mais do que você?<br />
<br />
eu sou ninguém e esse poder inútil me dá ganas de big bang se eu pudesse punha o sol na ponta de uma tocha e entrava correndo na caverna cegando todos de poesia e se meu braço se queimasse e meu rosto derretesse enfim máscara de cera quem sabe minha face se soltasse de mim<br />
e voasse alta na tua direção?<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/12.wma"> silêncio 12</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
eu pressinto as pernas de mona lisa<br />
imagino seu contorno em branco e preto<br />
o tecido contornando o tornozelo<br />
a panturrilha pálida os pequenos pêlos<br />
irisados pelo vento que a tela encobre<br />
um pequeno vermelho na coxa esquerda<br />
fruto de um amor ou de um inseto<br />
o sensível quase nada desencontro<br />
entre o tamanho de uma perna e outra<br />
ela é coxa de nascença e renascença<br />
mas de tal modo tão sutil a diferença<br />
que se reflete no sorriso um pouco acima<br />
e no arco matemático dos olhos<br />
a tortura do conjunto na vertigem de existir<br />
assim equilibrada em superfície<br />
sobre uma base de iceberg derretido<br />
não são tristes obscuras suas pernas<br />
são incertas em silêncio pois o tempo<br />
não precisa delas para nada<br />
mesmo estando ali parada a tantas horas<br />
não guarda mais vontade de ir embora<br />
de vez em quando coça o braço<br />
não de enfado nem de medo<br />
mas de lento forte agudo desespero<br />
de estar assim dependurada<br />
no vazio do mundo afora<br />
em casebres funerárias bares louvres<br />
em pobres salas coloridas sem louvores<br />
com seus pés invisíveis e profundos<br />
balançando neste vácuo além-moldura<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/13.wma"> silêncio 13</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
o céu<br />
da minha boca<br />
é a tua<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/14.wma"> silêncio 14</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
é sem fundo esse poço<br />
chamado passado<br />
tem fama de fosso<br />
charco cloaca alagado<br />
mas é feito de escuro<br />
e de limo sublimado<br />
não há unha de garra<br />
na parede incrustada<br />
rastro de mão digital<br />
boca de fera enjaulada<br />
marca de pé ou cordame<br />
na parede passada<br />
é sem pausa esse fosso<br />
e vamos todos caindo<br />
mares estrelas mulheres<br />
quadros montanhas meninos<br />
porque voar não sabemos<br />
<br />
cair é nosso destino<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/15.wma"> silêncio 15</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
metáforas me atacam<br />
na embriaguez do escuro<br />
balanço numa rede de estrelas<br />
sou feito de medo vertigem amor<br />
caminho por becos que invento<br />
onde nem minha sombra me acompanha<br />
estou estendido no vazio<br />
esperando que o tempo me seque<br />
que a luz do teu olhar me cegue<br />
e eu possa mergulhar em paz<br />
no lugar em que estão as coisas<br />
antes de nascerem<br />
<br />
sinto mesmo sem linguagem viva<br />
o pulsar de cada partícula<br />
o movimento circular de cada coisa<br />
dentro e fora de mim<br />
porque não há dentro e fora<br />
e não sou ponte de lugar a lugar algum<br />
eu sou tudo o que me toca<br />
e estou em tudo o que jamais verei<br />
sorrio pra lua como sorriram e sorrirão<br />
todos os loucos com tempo suficiente<br />
no meio da estrada e do escuro<br />
para perceber o giro de tudo<br />
a espiral sem centro que desabrocha<br />
numa galáxia nunca sonhada e vem girar<br />
suavemente no meu copo dágua<br />
<br />
verdade que estou entre livros<br />
e datas que me perseguem<br />
mas se fizesse minha fogueira<br />
de poetas e calendários<br />
iluminaria a mesma porção de passos<br />
que preciso para estar parado<br />
carregando o vazio do meu corpo<br />
de um lado a outro do palco<br />
mesmo sabendo o ridículo da peça<br />
porque incomoda aos outros atores<br />
o cinismo e a liberdade dos que se encontram<br />
a uma ponta do palco e de mãos nos bolsos<br />
esperam o descer do pano<br />
<br />
mas se resisto à vontade eterna e certa<br />
de gargalhar na minha sombra<br />
é porque num momento breve e mágico<br />
o movimento da comédia te aproxima do meu braço<br />
e te envolvo no escuro como se a morte<br />
me emprestasse seu manto<br />
e acendemos lá dentro<br />
no mais profundo centro do oco fundo do poço<br />
a vida<br />
que brilha dentro da morte fingida<br />
escondida do mundo como o sol<br />
atrás da breve asa leve<br />
que passa sem levar nada<br />
(mas que deixa no pássaro<br />
sua marca)<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/16.wma"> silêncio 16</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
cabelo<br />
unha<br />
dente<br />
<br />
amor<br />
humor<br />
apêndice<br />
<br />
memória<br />
prata<br />
vinho<br />
<br />
tudo<br />
foi ficando<br />
no caminho<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/17.wma"> silêncio 17</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
você passou de repente<br />
chuva de verão<br />
foto colada no espelho<br />
gente na estação<br />
<br />
são teus olhos que vejo<br />
quando abre o sinal<br />
você me acena em negrito<br />
num branco jornal<br />
<br />
na próxima esquina<br />
há de nascer o sol<br />
mas se você não for<br />
eu também não sou<br />
<br />
não venha me dizer<br />
que a tarde já vem<br />
ainda é cedo pra ser<br />
<br />
no amor<br />
pensar não pega bem<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/18.wma"> silêncio 18</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
minha sombra projeta meu corpo<br />
vivo e morto num porre sem vinho<br />
eu mesmo adivinho o caminho<br />
e arranco a âncora do porto<br />
<br />
fantasma da ópera corcunda<br />
monstro gauche e sem coração<br />
desenho minha triste figura<br />
no espaço entre o sim e o não<br />
<br />
quebrei minha máquina lírica<br />
minha elétrica lira calada<br />
desafina à beira do abismo<br />
antes mesmo de ser inventada<br />
<br />
eu mergulho entre isso e aquilo<br />
e arranco o fio da palavra<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/19.wma"> silêncio 19</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
deu<br />
<br />
no<br />
<br />
que<br />
<br />
deus<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/20.wma"> silêncio 20</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
riobaldo tatarana urutu-branco<br />
repousa no teu conto meu espanto<br />
de ver em tanto canto tal silêncio<br />
em tua diversa voz o mesmo guizo<br />
de anjo ou de demônio feminino<br />
mefisto cravejado no teu peito<br />
ou caixa dissonante de pandora<br />
agora no teu braço feito em arma<br />
pra armar o que te ama e te derrota<br />
desfaz o teu destino falso e roto<br />
que não nasceu pra ulisses outro ente<br />
retorna à encruzilhada e de repente<br />
abraça o teu demônio feito em anjo<br />
de agora em diadorim eternamente<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/21.wma"> silêncio 21</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
combati com o anjo<br />
e a benção não veio<br />
<br />
naveguei os mares<br />
para não chegar<br />
enfrentei o sol<br />
nada me esperava<br />
fiz o meu sermão<br />
dei o meu silêncio<br />
maltratei esfinges<br />
fui até ao inferno<br />
inventei gigantes<br />
escutei sereias<br />
expulsei os bárbaros<br />
traduzi os sonhos<br />
fiz doze tarefas<br />
antes de seis dias<br />
reduzi a quase<br />
a relatividade<br />
mergulhei no espelho<br />
para me enfrentar<br />
<br />
mas a benção não veio<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/22.wma"> silêncio 22</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
desculpa amor<br />
<br />
roubaram a flor<br />
que eu plantei<br />
na tua cova<br />
<br />
era vermelha<br />
e nova<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/23.wma"> silêncio 23</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
eu sou um só<br />
mas não sou<br />
só um<br />
<br />
somos muitos sós<br />
em lugar<br />
nenhum<br />
<br />
e de tanto ser<br />
sem sentido<br />
algum<br />
<br />
desfazemos nós<br />
dilatamos zoons<br />
acendemos sóis<br />
<br />
pra de uns<br />
ser<br />
um<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/24.wma"> silêncio 24</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
sou um homem limpo<br />
<br />
uso meu nome<br />
para escovar<br />
os dentes<br />
<br />
trago no peito<br />
uma serpente<br />
mordendo<br />
a própria cauda<br />
<br />
mas é marca na pele<br />
e travo de veneno<br />
nos meus olhos<br />
não se pressente<br />
<br />
apesar de crápula<br />
mentiroso e libertino<br />
sou inocente<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/25.wma"> silêncio 25</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
tenho procurado a terra do sono<br />
dentro de livros cavernas mulheres<br />
qualquer porção de paz antes do túmulo<br />
sem o peso do corpo e outros vermes<br />
<br />
sem a cor do desejo e do deserto<br />
ou o falso equilíbrio do calmante<br />
sono sem sonho sereno e desperto<br />
somente em si mesmo: reconfortante<br />
<br />
mas a maldita lucidez que trago<br />
alucinada fera nesse escuro<br />
não me deixa dormir nem um segundo<br />
<br />
estranho sol de sombra vulto claro<br />
caminho sem destino em falso prumo<br />
buscando acordado a terra do sono<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/26.wma"> silêncio 26</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
se<br />
<br />
você<br />
<br />
faltasse<br />
<br />
mais<br />
<br />
não<br />
<br />
caberia<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/27.wma"> silêncio 27</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>5 ou 13 coisas pra que serve o meu amor<br />
</b><br />
<br />
meu amor serve para encurtar a distância entre as estrelas e de algum modo muito obscuro que só meu amor reconhece fazer a noite mais longa e absurdamente iluminada<br />
<br />
meu amor permite com a sua existência a abertura de todos os girassóis e todas as infinitas sementes que alimentam infinitos pássaros que de outro modo senão pelo meu amor não poderiam comer e por isso mesmo passarar<br />
<br />
meu amor conserva virgens todas as palavras mesmo as mais aparentemente velhas e cansadas encontram no meu amor o mar da juventude e vêm todas sedentas de serem ditas gozadas comprimidas em poemas libertadas<br />
<br />
meu amor ressuscita a música abre a tumba o calabouço destapa a boca de mármore falso e deixa que o som bata suas asas e derrame o seu pólen sobre as pedras que inesperadamente começam a cantar<br />
<br />
meu amor substitui todos os remédios tratamentos diagnósticos não há câncer gripe mau-olhado que não cure o meu amor com eficácia comprovada como relaxante e afrodisíaco<br />
<br />
meu amor transforma a cor de tudo ou transforma a cor de tudo aqui no meu olhar a tal ponto que brota do semáforo um azul de tempestade e ontem fez surgir de olhos cegos dezenove arco-íris<br />
<br />
meu amor derruba muralhas e milhares de mulheres por ela se libertam a leveza de seu passo raio tsunami arranca aplausos das nuvens que derramam sobre os reinos libertados o mesmo perfume cor de vinho<br />
<br />
meu amor inventa línguas para as coisas para as plantas ela deu um idioma que ela chama greeniano e agora é possível haver diálogo entre um grilo e uma rocha interrompido por uma anta poliglota<br />
<br />
meu amor consola a perfeição por não ser eterna a poesia por não ser perfeita e a morte por ser imortal e de dentro de seus olhos mina um rio de lágrimas de cristal que deságua lentamente para que tudo em volta transborde<br />
<br />
meu amor me aniquila o tempo todo me nasce outro lá de dentro do seu lodo lótus luz acesa na janela lá de casa meu amor é minha queda meu sol e minha asa eu sou de cera entre os dedos de seu sonho me decifro nas entrelinhas do silêncio de tal modo reencontrado que eu morro no princípio e começo onde termina o ponto fraco do meu plano: meu amor é o que eu amo<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/28.wma"> silêncio 28</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
sou súbito<br />
o que a sombra é<br />
<br />
se me desfazem verbos<br />
eis a luz<br />
<br />
sigo só - e cego<br />
mais que um: sou uns<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/29.wma"> silêncio 29</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
sabe<br />
quem anda me comendo?<br />
o tempo<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/30.wma"> silêncio 30</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
outro ontem<br />
incompleto<br />
cai do calendário<br />
<br />
tempo sem tempo<br />
sempre fora do horário<br />
<br />
se sou o pulso<br />
a corda a fera<br />
dentro do abismo<br />
<br />
por que não cessa<br />
agora<br />
o mecanismo?<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/31.wma"> silêncio 31</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
de cristais e silêncios essa falta<br />
foi a fera na mesma estrada antiga<br />
não me veio ninguém da esfera alta<br />
luz nenhuma que em outro espaço brilha<br />
<br />
não se fez menos dor no meu caminho<br />
nenhuma pedra a mais no meu passado<br />
só o dia perdeu muito do brilho<br />
e a noite rompeu o breu contrato<br />
<br />
não maldigo um tal dia tão maldito<br />
por saber que a vida é fúria e calma<br />
e descrer que o que digo sem juízo<br />
<br />
tem mais fogo e força que essa alma<br />
miserável faminta e arrebentada<br />
no centro do vazio da antiga estrada<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/32.wma"> silêncio 32</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
bicho do mato<br />
de sete cabeças<br />
de sete faces<br />
sete vidas<br />
vezes mortes<br />
sete artes<br />
meu maior disfarce<br />
é ser eu mesmo<br />
<br />
se me finjo<br />
de esfinge<br />
sou o que és<br />
o que se parte<br />
na miragem<br />
do espelho<br />
(onde arde o ouro<br />
da memória)<br />
<br />
me decifra-te<br />
ou te devoro-me<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/33.wma"> silêncio 33</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
me dá teu senso<br />
o teu sentido<br />
<br />
porque o meu<br />
perdeu-se no caminho<br />
<br />
não é de ti<br />
que preciso<br />
<br />
fica tranqüila<br />
<br />
é do que nasce em mim<br />
quando estou contigo<br />
que careço<br />
<br />
amar<br />
é isso<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/34.wma"> silêncio 34</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
a carne é fraca me disseram mas eu vi<br />
o corpo luminoso de um homem entre rodas<br />
lubrificando a engrenagem<br />
<br />
o labirinto de peixes e crustáceos<br />
na garganta do afogado<br />
o pó cinza que ascendia e o cheiro de gordura<br />
nos umbrais do crematório<br />
<br />
por isso não me falem de fraqueza<br />
as pedras são fracas e a chuva sem vento<br />
quando a tarde não termina e as pontes sem destino<br />
que desabam sobre os rios<br />
<br />
a carne não é fraca a carne é qualquer coisa<br />
entre sonho e podre vinho e mangue<br />
e se desfaz em fios de nada ao menor toque de navalha<br />
ou de pavor<br />
a carne é casa aberta cidade sem muralhas<br />
triste morada sem senhor<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/35.wma"> silêncio 35</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
fomos muito longe<br />
sem sair do lugar<br />
<br />
agora<br />
para onde ir?<br />
<br />
agora<br />
como voltar?<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/36.wma"> silêncio 36</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
tão carente<br />
de conversa<br />
que até um velho<br />
surdo<br />
me conserva<br />
a lucidez<br />
<br />
falo comigo<br />
pra ele<br />
fala de si<br />
consigo<br />
<br />
e vamos os dois<br />
tateando silêncios<br />
e signos<br />
<br />
como velhos amigos<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/37.wma"> silêncio 37</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
hoje fiz<br />
respiração<br />
boca a boca<br />
numa borboleta<br />
(sem metáforas)<br />
<br />
soprei de leve<br />
até que abriu<br />
suas asas<br />
e decolou<br />
direto<br />
para o sol<br />
<br />
(sem metáforas)<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/38.wma"> silêncio 38</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
estou morto<br />
quem diria<br />
de tanta vida<br />
que me cabe<br />
<br />
morto de morte nascida<br />
assim azul e de repente<br />
bem no meio da tarde<br />
<br />
morrer assim<br />
não cria luto<br />
não faz manchete<br />
de jornal<br />
<br />
morrer assim<br />
em plena vida<br />
de tanta vida<br />
<br />
já é normal<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/39.wma"> silêncio 39</a><br />
<br />
<br />
<br />
os pronomes pessoais só desagradam<br />
a quem pensa ser a imagem do espelho<br />
e pensando se perde na miragem<br />
mirando o sonho acerta o pesadelo<br />
<br />
de estar na tela na página no ar<br />
cada gesto xamânico perdido<br />
como se fosse fácil ocultar<br />
tanto inferno em tão pouco paraíso<br />
<br />
quem entra na caverna da linguagem<br />
deixa lá fora a esperança de ser um<br />
multiplicando em si o mundo inteiro<br />
<br />
espelho circular oitava margem<br />
manaus egito lua cafarnaum<br />
dentro do instante último e primeiro<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/40.wma"> silêncio 40</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>pau & circo</b><br />
<br />
<br />
não há<br />
quem não<br />
pense<br />
<br />
pênis<br />
et<br />
circensis<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/41.wma"> silêncio 41</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>meta</b><br />
<br />
<br />
a palavra cantada só germina<br />
se o ouvido tiver a alma fina<br />
flor-poema cadê o teu perfume<br />
homem brasa rebrilha o teu lume<br />
pra nascer desse caos o universo<br />
só espera que digam o seu nome<br />
<br />
o que diz e dirá nesse meu verso<br />
a beleza virada pelo avesso<br />
a cabeça da deusa decepada<br />
transformando em pedra essa palavra<br />
retirada de dentro do silêncio<br />
fez de si essa música parada<br />
<br />
nesse arco tão teso quanto tenso<br />
miro a imagem exata do que penso<br />
um caminho um relógio um sapato<br />
um amor pra morrer no quinto ato<br />
o passado guardado no futuro<br />
o presente perdido no retrato<br />
<br />
esclareço num raio esse escuro<br />
verborrama espalhado no teu muro<br />
se a linguagem não faz o seu sentido<br />
se o sentido parece não ter signo<br />
reescrevo Aristóteles Quixote<br />
Dante Fausto Drummond Tomás de Aquino<br />
<br />
poesia palavra carregada<br />
labirinto esfinge coisa rara<br />
só por ti enlouquece meu juízo<br />
teu inferno é só meu paraíso<br />
se me perco na altura da tua asa<br />
tu mergulhas de vez dentro do círculo<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/42.wma"> silêncio 42</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
o Senhor é meu pastor<br />
não me faltará capim<br />
ainda que eu caminhe<br />
pelo vale do silício<br />
seja de silêncio minha fala<br />
e me retalhe o falo e a alma<br />
faz-me repasto de vermes<br />
guia-me para dentro da tempestade<br />
minha dor é seu consolo<br />
unge minha cabeça com fogo<br />
para que a treva se reconheça<br />
e o cálice da ira se aqueça<br />
o Senhor habitará na minha casca<br />
por toda a eternidade<br />
nada O fartará<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/43.wma"> silêncio 43</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
por que tanto vento<br />
dentro da casa? por que<br />
um deserto assim tão dentro<br />
da casca como se tudo fosse<br />
e se partisse indo sumindo enquanto<br />
deixasse de ser? então pra que<br />
tanta força tanta pedra contra a corrente<br />
se o rio nasceu para secar e ser rio<br />
e sereia até o silêncio começar?<br />
onde o corpo na sombra<br />
a palavra na lembrança a prata<br />
de uma tarde que nunca termina?<br />
<br />
porque antes do começo<br />
já havia o nada<br />
e dentro do dia das horas dos seres das coisas<br />
a secreta semente do nada<br />
tecendo seu humilde trabalho<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/44.wma"> silêncio 44</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>a pessoa</b><br />
<br />
<br />
<br />
sobra sombra<br />
entre o que sou<br />
e o que sinto<br />
<br />
o que é meu<br />
não me pertence<br />
<br />
só é verdade<br />
aquilo que minto<br />
<br />
multiplico minha imagem<br />
pondo espelho contra espelho<br />
<br />
sou meu próprio<br />
labirinto<br />
<br />
e duvido de tudo<br />
que vejo<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/45.wma"> silêncio 45</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
eu sei como orfeu se sente<br />
<br />
entre pedras seu olhar de breu e sombra<br />
a luz sonhada a sua frente<br />
e a tristeza que se torna gravidade<br />
<br />
não é leve carregar as mãos vazias<br />
a quem apontam estradas<br />
que vão dar em nada sem sementes<br />
<br />
dentro da noite e do dia<br />
mesmo sem querer<br />
eu sei como orfeu se sente<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/46.wma"> silêncio 46</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
a morte já está comigo<br />
me acompanha levemente<br />
como quem seguisse o vento<br />
e não quisesse compromisso<br />
<br />
mas não perde o meu caminho<br />
se atravesso a meia-ponte<br />
ou dobro a esquina sem aviso<br />
sua sombra logo pousa sobre a minha<br />
<br />
é companheira competente<br />
e suponho até que cega: quem sabe<br />
pelo faro é que me (nos) segue<br />
porque vivos também cheiram<br />
<br />
às vezes roça os dedos bem de breve<br />
na minha mão aberta e nua<br />
ou na nuca feito a mãe guiando o filho<br />
entre as mil margens da rua<br />
<br />
a morte está comigo desde sempre<br />
e quem sabe de repente me esquecendo<br />
eu tropeço em alguma pedra amiga<br />
e a morte siga sem dar conta<br />
de que primeira vez na vida<br />
caminha sem mim só em si sozinha<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/47.wma"> silêncio 47</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
durante toda a minha vida<br />
(mas o que é toda a vida<br />
se nenhuma vida é toda ou tudo?)<br />
eu escondi meu ser cansado e louco<br />
atrás das palavras<br />
<br />
desde cedo desde muito cedo aprendi<br />
a ler escrever e ver que tudo aquilo<br />
era também uma forma de mentira de teatro<br />
e que assim eu me eximia me esquivava<br />
de ser eu a verdade de mim mesmo<br />
<br />
agora no limiar da porta<br />
(do lado de fora está escrito FECHADO<br />
em letras vermelhas)<br />
decido ser eu mesmo e por acaso me descubro<br />
tão pobre de palavras e adereços<br />
que as metáforas escapam<br />
pelos furos dos meus sapatos<br />
e as antíteses que criei com todo amor<br />
como a um circo de pulgas<br />
saltam da mesa cansadas do cabo de guerra<br />
e da minha própria bebedeira<br />
<br />
se as palavras tivessem cu eu meteria em cada um<br />
o dedo sujo e duro do meu silêncio<br />
(apesar de tudo ainda escrevo escravo escroto<br />
esgoto de mim mesmo e desse mundo torto<br />
que me devora como um espelho)<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/48.wma"> silêncio 48</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
misericórdia, amor, por ser tão podre<br />
por ser tão pobre a aliança que proponho<br />
de limo lama lágrima e memória<br />
meus seios estão murchos<br />
minhas coxas se fecharam<br />
mas as comportas dos meus olhos<br />
ainda estão abertas<br />
<br />
aproveita e te afoga, amor<br />
feito ofélia feito ismália<br />
narciso joão gostoso<br />
e duvido se teu corpo não se casa<br />
de uma vez<br />
com a tristeza branca e magra<br />
que inventei pra te vestir<br />
<br />
aproveita, amor<br />
e vai embora<br />
pra dentro de mim<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/49.wma"> silêncio 49</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
defina amor<br />
<br />
e a pedra disse<br />
vento<br />
<br />
e o vento disse<br />
silêncio<br />
<br />
e o silêncio<br />
dormiu<br />
<br />
lá dentro<br />
<br />
do coração<br />
da pedra<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/50.wma"> silêncio 50</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
espírito<br />
de porco<br />
espinho<br />
<br />
abraço o ar<br />
com o aço<br />
que me escorre<br />
pelos poros<br />
<br />
e asfalto<br />
com o olhar<br />
o meu caminho<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/51.wma"> silêncio 51</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
primeira lição: não<br />
existe regra que não seja<br />
sua própria exceção<br />
<br />
(a não ser que se decida<br />
ser o não do não<br />
o sim do não<br />
pelo avesso: senão)<br />
<br />
segunda regra: se a vida<br />
for azul e linda<br />
houve erro de formatação<br />
<br />
(ou de memória<br />
essa ilha de fantasia<br />
da edição)<br />
<br />
última regra: a entrega<br />
deve ser no prazo<br />
e completa<br />
sem chance de prorrogação<br />
<br />
(a não ser que o ser se dissolva<br />
entre o tédio do éter<br />
e o limo da sublimação)<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/52.wma"> silêncio 52</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
ela gozava treze vezes<br />
em trezentas camas quentes<br />
<br />
ela falava nomes feios<br />
e ficava arrepiada<br />
em francês italiano esperanto<br />
<br />
seu corpo era um porto de partida<br />
de navios imensos que afundavam<br />
sem deixar vestígios<br />
<br />
eu nadava a braços largos<br />
no seu ventre entre pêlos de peliça<br />
entre sombras e vermelhos<br />
que brotavam feito nuvens<br />
do seu corpo iluminado<br />
<br />
um dia (ou era noite? fim de tarde?)<br />
ela foi embora devagar<br />
acenando vinte mãos pálidas<br />
e chorando por todos os poros<br />
<br />
em um dos infinitos dedos<br />
balançava balançava<br />
a chave de sua caixa<br />
de pandora<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/53.wma"> silêncio 53</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
só há dois tipos<br />
de poetas<br />
<br />
aqueles que dizem<br />
sim<br />
e aqueles que dizem<br />
não<br />
<br />
os que dizem talvez<br />
não são poetas<br />
<br />
são burocratas<br />
professores de estética<br />
cronistas frustrados<br />
ou covardes prostitutas<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/54.wma"> silêncio 54</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
às vezes no meio da tarde<br />
o vazio me tira para dançar<br />
(mentira: eu que assovio<br />
quando vejo o vazio passar)<br />
<br />
ele vem com o vento<br />
que a chuva manda na frente<br />
pra fechar as janelas<br />
e os olhos da gente<br />
<br />
ou pode ser o não-vento<br />
o demo do tempo passando<br />
no meio do redemoinho<br />
que muda tudo de canto<br />
<br />
às vezes a música pára<br />
<br />
e a gente sente que a vida<br />
já estava de partida<br />
antes da festa começada<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/55.wma"> silêncio 55</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
você<br />
era de vidro<br />
e sopro<br />
<br />
eu<br />
bruta pedra<br />
primitiva<br />
<br />
fomos feitos<br />
pelo avesso<br />
um pro outro<br />
<br />
eu, a morte<br />
você: vida<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/56.wma"> silêncio 56</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
o tempo se fecha entre meus dedos<br />
fruta podre na esperança de semente<br />
não pára de chover há sete anos<br />
faz sete que morri e permaneço<br />
<br />
estou no porto que afundou e não há vento<br />
nem mensagens que me saltem pelo ar<br />
todo o meu olhar é cor de lama<br />
e esqueci meu nome há muito tempo<br />
<br />
mas dizem que haverá futuro<br />
para as pedras que ficarem em silêncio<br />
escondidas bem no fundo do escuro<br />
dessa nuvem que não sabe caminhar<br />
<br />
trago entre os dedos o passado<br />
em gomos sumos e sementes<br />
e vou seguindo porque em cada passo<br />
há o risco de estar: mesmo que ausente<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/57.wma"> silêncio 57</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
sidarta<br />
meu tudo enchendo<br />
meu nada<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/58.wma"> silêncio 58</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
olha os olhos<br />
olha os olhos<br />
olha os olhos<br />
da menina<br />
envergonham a manhã<br />
com o seu azul<br />
<br />
não há medo<br />
não há míssel<br />
que derrube o sol<br />
do céu<br />
<br />
vem acorda<br />
vem agora<br />
já é hora de saber<br />
que o mundo não foi feito na tv<br />
o agora está lá fora<br />
bêbado de acontecer<br />
<br />
manhã cedo brilha a rosa<br />
manhã cedo brilha a rosa<br />
na saliva do jardim<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/59.wma"> silêncio 59</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
eu não recuso<br />
olhar o sol de frente<br />
<br />
daí minha cegueira<br />
essa loucura que me sobe<br />
pelos verbos<br />
e se abre na cabeça<br />
feito um lótus<br />
<br />
esse quebrar de pedras<br />
na certeza de um mar<br />
que mora dentro<br />
e se afoga na pequena treva<br />
de uma palavra acesa<br />
<br />
apesar de negra<br />
na miragem<br />
do papel<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/60.wma"> silêncio 60</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
eu fiz um acordo<br />
com o silêncio<br />
<br />
há muito tempo<br />
não me lembro<br />
exatamente das palavras<br />
ou dos gestos ou os símbolos<br />
usados nesse pacto<br />
sem nome<br />
<br />
não foi preciso encruzilhada<br />
sangue sêmen testemunha<br />
nada da parafernália<br />
que se obriga a estar presente<br />
a um acordo de palavras<br />
<br />
foi acordo sem palavras<br />
mas estavam todas cientes<br />
da minha humilde prepotência<br />
de usá-las sem medida<br />
sem cuidado<br />
na perícia que a demência<br />
dá a poucos<br />
kamikases quase mortos<br />
cirurgiões do próprio cérebro<br />
no mergulho azul profundo<br />
entre nada e coisa alguma<br />
<br />
fiz um pacto com o silêncio<br />
um tratado de mim mesmo<br />
pra ser lido no escuro<br />
do aconchego<br />
de um túmulo<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/61.wma"> silêncio 61</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
um senhor escuro<br />
pousado bem de leve<br />
no espelho<br />
observa<br />
<br />
aonde leva<br />
essa vereda?<br />
a que deserto<br />
me condena<br />
essa palavra?<br />
<br />
em que camada dessa pele<br />
retalhada pelo tempo<br />
mora teu segredo<br />
alma?<br />
<br />
eis que do escuro<br />
de repente a luz<br />
a queda<br />
e o nada<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/62.wma"> silêncio 62</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
o coração precisa ser inteligente<br />
pensar o cérebro de um modo diferente<br />
fazer do corpo nuvem e pedra de repente<br />
fingir que sente tanta coisa separada<br />
poesia alma danada ninguém vai te exorcizar<br />
caminha cega com os olhos na viola<br />
com o dedo na vitrola do meu cérebro a piscar<br />
caminha louca gargalhante esfarrapada<br />
noves fora a vida é nada<br />
morte me ensina a contar<br />
<br />
pulei o muro do quintal do paraíso<br />
meu deus do céu mas então o céu é isso<br />
melhor não ter nem um pouco de juízo<br />
para não ver tanto anjo em debandada<br />
dando as costas pra coitada<br />
dessa virgem a soluçar<br />
<br />
não chore não minha mãe não chore não<br />
que vou lhe dar um pedaço de pulmão<br />
parte do fígado a língua quase inteira<br />
o brinquedo de mijar cada dedo dessa mão<br />
me dou inteiro se a senhora prometer<br />
preparar para o seu filho novo em folha coração<br />
que só precisa ser um pouco inteligente<br />
fingir que pensa como o resto dessa gente<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/63.wma"> silêncio 63</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
singro signos<br />
sorvo pântanos<br />
sangro sândalos<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/64.wma"> silêncio 64</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
eu sou você<br />
só você não sabia<br />
e não sabia<br />
por que não queria<br />
porque querer<br />
era muito<br />
e você me dizia<br />
que não podia<br />
que não podia<br />
com tanta poesia<br />
e ia embora<br />
e era eu quem partia<br />
mas eu sabia<br />
mais dia menos dia<br />
nossa noite brilharia<br />
porque eu era você<br />
e quem disse<br />
que de si<br />
escaparia?<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/65.wma"> silêncio 65</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
aquela sopa esfriava<br />
enquanto a mosca zumbia<br />
o relógio marcava<br />
meia-noite meio dia<br />
sono preguiça calor<br />
nenhuma dor distraía<br />
a folha não balançava<br />
a sombra não se movia<br />
nenhum amor pra esperar<br />
a noite de outro dia<br />
nem a saudade pintava<br />
a sua fotografia<br />
<br />
silêncio no corredor<br />
toda a cidade dormia<br />
a tela em tecnicolor<br />
sua memória vazia<br />
nem percebeu que estava<br />
emparedado em si mesmo<br />
o nó da sua garganta<br />
sendo apertado em silêncio<br />
mal percebeu era tarde<br />
para escapar do remédio<br />
o tempo de hora em hora<br />
e um comprimido de tédio<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/66.wma"> silêncio 66</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
perdi a dentadura entre o verde do quintal<br />
agora meu sorriso é tão vegetal<br />
quando falo gafanhotos saltam<br />
sobre sapos de cerâmica e creme dental<br />
<br />
o céu da boca é tão azulejo<br />
saliva lodo verde monet<br />
formigas cavam dentro do beijo<br />
que eu mandei pra você<br />
<br />
a língua virou poleiro<br />
os olhos chafariz<br />
é preciso podar grama<br />
todo mês no meu nariz<br />
<br />
não tenho nada contra o nada<br />
mas não sei me dissipar<br />
o difícil de morrer<br />
é não poder matar o tempo<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/67.wma"> silêncio 67</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
se você perguntar de onde eu vim<br />
posso lhe responder sem medo<br />
eu vim do começo até este fim<br />
eu fiz do caminho meu credo<br />
<br />
posso ser o que quiser<br />
desde que seja de repente<br />
homem menino ou mulher<br />
napoleão major tenente<br />
<br />
sou um negro da cornualha<br />
marciano de barbalha<br />
sou no xingu maior pajé<br />
sou o que deus e o diabo quer<br />
<br />
fui me mudando porque quero<br />
ser sempre o mesmo é desespero<br />
fui me fazendo pelos ares<br />
troquei raízes por radares<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/68.wma"> silêncio 68</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>shamallian</b><br />
<br />
<br />
<br />
as pedras chamaram meu nome<br />
e eu respondeu.<br />
ou via folhas em silêncio.<br />
deitei meu corpo na relva<br />
quando havia frio<br />
quando estava quente<br />
e aprendi com meu corpo<br />
que é bom estar vivo<br />
mas morrer não é mau.<br />
como a chuva demorasse mais um pouco<br />
e o sono colasse nos ossos olhos<br />
dedos leves cinzentos<br />
e o corpo em si mesmo<br />
para dentro do nada.<br />
aprendi com as coisas<br />
ser não ser<br />
rir de mim esmo<br />
quando um rosto na água<br />
sorria pra mim.<br />
foram todos embora<br />
com o tempo<br />
mas o tempo ficou eu também<br />
agora escrevo nas pedras<br />
na faca das folhas<br />
para ninguém.<br />
quando acordei persubi o silêncio<br />
do lado de fora<br />
mas não sabia<br />
se todos deviam permanecer<br />
em torno do jogo do fogo<br />
e nossos loucos deveriam cantar<br />
em nossas bocas<br />
suas palavras de fogo e mel<br />
arrastar nossa língua pelos ares<br />
musas músicas gargralhadas<br />
meninos tornados deuses<br />
pelo batismo da alegria<br />
afastar de nossas portas as hordas<br />
as feras das trevas sangrentas<br />
a fome dentro de nós<br />
porque palavra e canto<br />
e cores na pele de bronze<br />
eram ser nossas certezas<br />
a graça dos nossos dias<br />
os dias das nossas noites.<br />
mas acordei e era tarde<br />
todos dormiam<br />
ainda de pé<br />
caladas suas bocas ficavam<br />
apesar do olhar de tanto desejo.<br />
onde malucos de nuvens<br />
onde trombetas de flores<br />
e fartura de sonhos?<br />
a fome bastante<br />
a tristeza maior<br />
pousavam em nossas casas<br />
colavam os nossos lábios<br />
os ossos dos nossos dedos<br />
e caminhavam nosso caminho.<br />
canto em canto algum se ouvia<br />
e nunca tão preciso.<br />
por isso apesar do medo<br />
da falta de certeza<br />
no arco da palavra<br />
pousei meu pé sobre o centro<br />
alucinado do mundo<br />
e disse meu nome<br />
como se soubesse sonhar.<br />
ninguém me ouvia<br />
ou eu é que não falava<br />
mais língua de alguém.<br />
foi nessa hora que as pedras<br />
chamaram meu nome<br />
e eu respondeu.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/69.wma"> silêncio 69</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
que fique muito<br />
mal explicado<br />
<br />
não faço força<br />
para ser entendido<br />
<br />
quem faz sentido<br />
é soldado<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/70.wma"> silêncio 70</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
tudo o que é sólido<br />
se dissolve no ar<br />
tudo o que é pálido<br />
vira gato na treva<br />
tudo o que é lógico<br />
é bom se duvidar<br />
tudo o que é lícito<br />
só acerta se erra<br />
tudo o que é mágico<br />
tem segredo e cartola<br />
tudo o que é pêndulo<br />
tem um ponto que pára<br />
tudo o que é símbolo<br />
satisfaz ao silêncio<br />
tudo o que é cérebro<br />
pensa tudo que é penso<br />
tudo que é tudo e nada<br />
<br />
tudo o que é endêmico<br />
pega a pele por fora<br />
tudo o que é pássaro<br />
sabe a curva do vento<br />
tudo o que é clássico<br />
saca antes da hora<br />
tudo o que é rápido<br />
perde do pensamento<br />
tudo o que é máquina<br />
teme a cara do tempo<br />
tudo o que lúcido<br />
um dia sai na pancada<br />
tudo o que é básico<br />
sente a falta do todo<br />
tudo o que é efêmero<br />
chega a tudo o que nada<br />
tudo que é tudo e nada<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/71.wma"> silêncio 71</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
mar<br />
dessa vez eu venci<br />
essa dura peleja<br />
de naufragar<br />
enquanto se veleja<br />
<br />
veja bem mar<br />
eu também sou água<br />
por isso mais dura a parada<br />
entre teu sal e o meu<br />
<br />
teu dia chegará mar<br />
e nessa noite<br />
quando eu enfim afundar<br />
aí sim<br />
você pode cantar<br />
<br />
vitória<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/72.wma"> silêncio 72</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
o tempo<br />
grave<br />
neste grito<br />
mudo<br />
<br />
minhas mãos<br />
em greve<br />
meu olhar<br />
e tudo<br />
<br />
que não<br />
posso ver<br />
(o silêncio<br />
ao lado)<br />
<br />
nada<br />
por fora:<br />
por dentro:<br />
nado<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/73.wma"> silêncio 73</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
os carros passam por mim<br />
eu vou de preto pela rua clara<br />
a surpresa me espera na esquina<br />
com cinco pedras sujas na mão<br />
<br />
eu digo não: já me basta a ausência<br />
do que me sou entre pele e miragem<br />
qual o meu nome perguntam<br />
eu respondo Amanhã<br />
<br />
garotas com alma de poodle<br />
sorriem dentro de caveiras milimétricas<br />
eu não: mastigo pedras de sentido<br />
e cuspo com o canudo do poema<br />
no ouvido de quem passa<br />
<br />
há quem me chame de dionísio<br />
mas isso, acreditem<br />
não tem graça<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/74.wma"> silêncio 74</a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b>vincent</b><br />
<br />
<br />
<br />
ouço a sinfonia fantástica de Berlioz<br />
enquanto caminho sob a chuva,<br />
sobre a lama. sonhei esta noite novamente<br />
com girassóis. os olhos ainda ardem de<br />
lembrar como se a memória das cores<br />
tivesse fogo próprio. um vento soprava sempre<br />
e leve, no sonho, apontando o sentido que deveria<br />
tomar naquela fuga. mas até no mundo onírico<br />
de Morfeu a idéia já me cansara, eu<br />
há trezentas vidas fugindo fingindo partindo<br />
a moldura de mundos recém-descobertos, alguns<br />
mesmo inventados, mundos que de mim se<br />
faziam cúmplices. mas de novo os girassóis<br />
com suas faces voltadas contra a luz e o vento<br />
lento a soprar nos moinhos do destino.<br />
a inevitável queda das mãos diante do nada, o dar<br />
de ombros sem que do escuro do infinito<br />
nenhuma voz o convencesse do contrário.<br />
esse automorrer-se, suplício vácuo de quem<br />
se extermina por nada tudo querer. talvez aqui<br />
a razão do estar andando, o motivo do vir à chuva,<br />
pisando sendo lama, sem marcas no chão,<br />
daqui a pouco. mas por que as notas do sonho<br />
de Berlioz, por que esse estacar do fôlego<br />
para melhor ouvir o gramofone que há no crânio<br />
a agulhar neurônios, fibras e sangues?<br />
o que aqui reproduz com perfeição<br />
a música de Berlim?<br />
lembro ter trocado um quadro por uma entrada,<br />
lembro da ruiva raivosa no intervalo, estalando<br />
no busto semi-aberto seu leque negro, como arfava. lembro<br />
que ouvia as cores e que as cores iam<br />
de um ponto a outro do ser, partilhando pontilhando espaço e tempo,<br />
dançando sob o compasso da imortalidade. lembro muito mais.<br />
mas qual.<br />
hoje se me restasse um quadro o trocaria<br />
por um guarda-chuva ou por um prato quente.<br />
minha obra-prima por uma cama.<br />
já não consigo nem sei gritar. se o pudesse<br />
gritaria baixo as notas submersas<br />
que emergiram daquela noite em mim, em Berlim.<br />
o meu timbre no fundo dos bolsos encharcados,<br />
escondido entre as dobras de meus dedos<br />
enrugados e brancos como o dorso de um jovem<br />
rato morto. pouco.<br />
a. pouco. a sinfonia cessa,<br />
tão mais curta que o caminho, tão mais certa<br />
que os passos. o silêncio azul e fresco.<br />
a noite marrom não expirou ainda<br />
sob o toque da quinta estrela.<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/75.wma"> silêncio 75</a><br />
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as lesmas<br />
são sempre<br />
as mesmas<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/76.wma"> silêncio 76</a><br />
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sou o de dentro<br />
da ostra<br />
quando a pérola<br />
partiu<br />
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a quarta face<br />
da trindade<br />
que você não viu<br />
<br />
o que pesa<br />
por baixo da pedra<br />
<br />
o que queima<br />
por trás do pavio<br />
<br />
dentro de mim<br />
nada espaço<br />
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pedra ou passo<br />
espero vazio<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/77.wma"> silêncio 77</a><br />
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eu sou a brasa<br />
a ovelha negra e bastarda<br />
mas não falha<br />
meu gatilho peregrino<br />
<br />
minha arte afiada<br />
minha capacidade de estar<br />
sempre na estrada<br />
<br />
sou eu quem canta para os anjos<br />
gozarem nas nuvens de deus<br />
eu que seguro meu crânio<br />
e ilumino a escada do céu<br />
<br />
sou eu quem sabe daquilo<br />
onde cabe o tudo e o nada<br />
<br />
por isso eu sou a brasa<br />
a ovelha negra e bastarda<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/78.wma"> silêncio 78</a><br />
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quando bater à porta<br />
para ver se me encontro<br />
ou se me perco<br />
não esqueça de bater de leve<br />
para que a musa<br />
se esconda sem susto<br />
para que eu vista minhas roupas<br />
e guarde os poemas<br />
para que o mundo retorne<br />
ao seu lugar<br />
e deus volte a se mover<br />
sobre a monótona face das águas<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/79.wma"> silêncio 79</a><br />
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a máscara que visto<br />
tem a minha cara<br />
meu olhar de bicho<br />
minha fala rara<br />
<br />
dela não me livro<br />
nunca me separo<br />
me escondo no escuro<br />
de sua pele clara<br />
<br />
somos dois assombros<br />
numa sombra só<br />
soma dividida<br />
pelo mesmo pó<br />
<br />
por baixo da pele<br />
nada se disfarça<br />
ela sou meu ele<br />
que se desmascara<br />
<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/80.wma"> silêncio 80</a><br />
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eu escrevo<br />
porque estou feliz<br />
<br />
escrevo quando estou<br />
no inferno<br />
<br />
escrevo<br />
porque não sinto<br />
nada<br />
<br />
você escolhe<br />
o clima<br />
o ritmo<br />
a estrada<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/81.wma"> silêncio 81</a><br />
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daqui a duzentos<br />
ou trezentos anos<br />
numa colônia humana marciana<br />
atolada em tédio<br />
um sujeito completamente bêbado<br />
publicará minhas obras completas<br />
<br />
até lá<br />
vão todos<br />
à merda<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/82.wma"> silêncio 82</a><br />
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nada mais barulhento<br />
que a burrice<br />
<br />
a alegria<br />
não é barulhenta<br />
<br />
a alegria é luminosa<br />
<br />
e a luz<br />
até onde o escuro saiba<br />
é feita de silêncio<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/83.wma"> silêncio 83</a><br />
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eu quero essa luz<br />
cinzazulada<br />
que a segunda-feira<br />
de manhã me trouxe<br />
e que trouxe de memória<br />
a prateada morte<br />
de um cardume<br />
que ajudei a arrastar<br />
numa praia<br />
e que agora de repente<br />
se parece com a chuva lágrima<br />
que a moça que passou por mim<br />
atrapalhada e pálida<br />
derramou<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/84.wma"> silêncio 84</a><br />
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é tudo dela<br />
e ela dá<br />
a quem quiser<br />
<br />
prerrogativa de deusa<br />
<br />
maná que mina<br />
entre mil lábios<br />
na certeza plurilíngüe<br />
de entretecer<br />
de traduzir<br />
<br />
como a teia<br />
revela a trama<br />
da fome fêmea<br />
da gana imensa<br />
de con<br />
sumir<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/85.wma"> silêncio 85</a><br />
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eu só quero um copo de vinho<br />
baco dionísio gertrude stein<br />
o fauno de brecheret<br />
que alberto cravou no meu peito<br />
numa certeira manhã de sampa<br />
eu só quero um copo um cálice<br />
de vinho tinto suave<br />
frida maiakovski buarque<br />
os deuses da sobriedade intacta<br />
porque loucos de nascença<br />
<br />
quando todas as pétalas<br />
dos jardins suspensos<br />
de magritte e de duchamp<br />
desabarem à beira do caminho<br />
eu pedirei humildemente<br />
apenas um copo ou meio<br />
de vinho<br />
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<a href="http://www.colegioclassea.com.br/download/silencio/86.wma"> silêncio 86</a>carlos moreirahttp://www.blogger.com/profile/17646255318966104366noreply@blogger.com18